Olá, amigos! A fachada frontal da Associação dos Empregados no Comércio já foi tratada aqui, mas hoje resolvi me aprofundar um pouco mais no assunto – pero non troppo…
Fundada no dia 7 de março de 1880, sob o nome de Associação dos Empregados no Comércio União e Trabalho, numa sala emprestada ao Jockey Club, então no número 28 da rua do Ouvidor, a AEC/RJ acaba de completar 140 anos! De 1880 a 1900, quando finalmente ergueu sua primeira sede própria, a associação esteve em vários endereços do Centro da cidade. Numa pesquisa rápida, encontrei três endereços: o número 50 da Rua do Ouvidor, o número 30 da Rua Visconde de Inhaúma e o número 97 da Rua do Rosário.
Interessam-nos aqui, contudo, outros três edifícios, especialmente construídos para sede da AEC: o edifício da Rua Gonçalves Dias, 40, bem como os dois edifícios da Avenida Rio Branco, construídos mais ou menos no mesmo endereço.
O edifício da Gonçalves Dias, 40 teve sua pedra fundamental colocada por volta de janeiro de 1899. O projeto, como tantos outros no Rio de Janeiro de então, era da firma Antonio Jannuzzi, Irmão e Cia. No dia 3 de dezembro desse ano realizou-se a “tradicional festa da colocação da cumieira no edifício”, quando “foi servido um delicado copo d´água”. A inauguração finalmente se deu no dia 22 de setembro de 1900, mas a vida útil do prédio como sede da agremiação não durou muito, já que a partir do ano de 1909 a associação se transferia definitivamente para o endereço mais nobre da cidade: a Avenida Central!
Na imagem abaixo vemos as duas primeiras sedes. O prédio da direita é a primeira sede própria, na Rua Gonçalves Dias, 40, construído entre 1889 e 1900; o edifício da esquerda é a segunda sede, a primeira construída na Avenida Central, entre 1905 e 1909.

Esse segundo Palácio dos Empregados no Comércio já era mais digno do nome. As fachadas da primeira geração de prédios a serem construídos na novíssima Avenida Central, a “principal artéria da urbs da Guanabara”, foram todas aprovadas num concurso oficial, no qual participou a fina flor da engenharia e da arquitetura nacionais. Esta fachada se deve ao grande arquiteto Adolpho Morales de los Rios (pai), sevilhano de nascimento mas carioca de coração, responsável por alguns dos mais notáveis prédios ecléticos do período, alguns dos quais ainda de pé, como o Museu Nacional de Belas Artes, o Centro Cultural Justiça Federal e o Palácio São Joaquim.

A pedra fundamental do Palácio da AEC no então número 116 da então Avenida Central foi lançada no dia 19 de novembro de 1905, e a inauguração se deu no dia 7 de março de 1909, no dia em que a associação comemorava o seu 25º aniversário de fundação. A construção, caríssima até para os padrões da época, colocou a AEC em sérias dificuldades financeiras. Os mármores da fachada vieram da Itália, a escada interna havia sido fabricada em Paris, a serralheria era europeia, os lindos vitrais haviam sido desenhados pelo caricaturista Julião Félix Machado. Sobre o imenso arco elevado das janelas que iluminavam o Salão Nobre, entre o terceiro e o quarto pavimentos, emoldurado pala inscrição ASSOCIAÇÃO DOS EMPREGADOS NO COMMERCIO DO RIO DE JANEIRO, o deus mitológico Mercúrio, padroeiro dos Comerciantes, oferecia sua proteção à nova casa.
Aqui, mais duas imagens desse segundo palácio.

Os prédios da grande Avenida, feitos para durar 100 anos, tal sua modernidade, não resistiram, porém, nem bem a 30… Já em 1939, tanto a sede da Rua Gonçalves Dias quanto o colossal palácio eclético de Morales de los Rios, com cúpula, lanternim e tudo mais, vieram abaixo! Era chegada a modernidade art déco.
Chegamos à terceira sede, a segunda na agora rebatizada Avenida Rio Branco. O Brasil está em pleno Estado Novo, e as notícias de jornal são escassas. A inauguração se deu no dia 30 de outubro de 1942, celebrando o Dia do Comerciário. Com 14 andares, 588 salas e 15 mil metros quadrados, a nova sede foi projetada pelo arquiteto italiano Alessandro Baldassini, da firma Gusmão, Dourado & Baldassini, que o construiu. A única coisa que o faz remeter ao seu predecessor é o mesmo deus Mercúrio, posicionado na mesma posição de destaque.
Esse Mercúrio art déco é trabalho do artista italiano radicado na cidade Giuseppe Gammarano (1910-1995). Ladeado por 6 grandes engrenagens, o Padroeiro dos Comerciantes, cuja concepção arrojada bem reflete o gosto e a tendência arquitetônica de seus projetistas, simboliza a saudável e necessária contribuição do Comércio para o progresso da Nação. Intitula-se Deus do Comércio e está assinado junto à face esquerda do pescoço do retratado.

O prédio tem dois acessos, o principal pela Avenida Rio Branco, 120, e o secundário, pelo número 40 da rua Gonçalves Dias. A sensação do novo “palácio” é a galeria que liga os dois acessos, inicialmente batizada de Galeria dos Espelhos e hoje popularmente conhecida como Galeria dos Empregados no Comércio. Saindo da galeria, no sentido Gonçalves Dias, e olhando para cima vemos nas extremidades dessa fachada dois imensos baixos relevos circulares, idênticos entre si, com o brasão da AEC. Em cada um deles vemos inúmeros símbolos associados ao Comércio e suas derivações. A âncora representa a segurança no Comércio; o feixe de trigo representa o comércio agrícola; a cornucópia alude à prosperidade que se espera do bom Comércio; o globo terrestre se refere ao alcance mundial do Comércio; e o livro contábil aberto representa a honestidade no Comércio. Estão ali ainda representadas as plantas-símbolo presentes no brasão de armas da cidade do Rio de Janeiro – o louro e o carvalho. O artista que o executou, infelizmente, me é desconhecido.

Uma última informação. Parece que o grande poeta brasileiro Antonio Gonçalves Dias (1823-1864) morou no exato solo em que se ergueu a primeira sede da AEC, na rua que, outrora dos Latoeiros, hoje leva seu nome. Um pequenino, escondido e mal tratado baixo relevo de mármore em homenagem ao poeta também está por ali, junto a uma das laterais da galeria…

É isso, mais ou menos… Até a próxima!