A primazia de um café

O subúrbio carioca reserva agradáveis surpresas para aqueles que resolvem caminhar por ali – e outras nem tanto…

Outro dia estive na Rua João Santana, em Ramos, para um trabalho – mais não digo. Havia chegado de manhã, lá pelas 8h, e já dava o meio-dia e o trabalho não saía. No momento em que apertou a fome, pus-me a procurar um sanduíche, um suco ou que tais. Para minha felicidade – e a da minha câmera – fui parar numa antiga padaria, lá dos anos 50 ou 60, eu presumo, hoje rebatizada Café e Bar Primazia. O dono – Sr. Manuel, se não falha minha falha memória -, muito simpático, foi logo me mostrando o rico painel pintado numa das paredes do estabelecimento: um painel em madeira decorado com cenas típicas e alegóricas alusivas ao Rio Grande do Sul e a Portugal, naturalidades respectivas dos antigos sócios, segundo o proprietário.

A pintura, vista aqui, é trabalho do artista português Cesar Augusto Castelão, que teria nascido em 1922 e aqui aportado no ano de 1954. Teria ele vindo de restaurar pinturas de museus alemães[1] e ainda pintado um óleo, em 1964, de ninguém menos do que um sorridente Juscelino Kubitschek!

A cena alegórica da sereia segurando uma nau portuguesa chega a lembrar o trabalho simbolista do genial pintor brasileiro Helios Seelinger (1878-1965), que durante sua vida produziu imagens semelhantes para tantos comerciantes portugueses no Rio de Janeiro. Ricamente envoltas em molduras florais imaginárias, os painéis de Castelão provam que nem só de Nilton Bravo vive a pintura decorativa mural dos cafés, bares e restaurantes cariocas.

Detalhe da assinatura do artista.

O suco de laranja estava ótimo – recomendo!

Ah! Já me ia esquecendo do endereço! Anotem lá: rua Operário Fortes, número 1, Ramos.

Por hoje é só!


[1] https://www.obrasdarte.com/cesar-augusto-castelao/

um comentário

  1. alexandre alves · · Responder

    Bela história!!! Nada como uma visita feita por quem conhece!!!

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