O RIO DE TODOS OS SANTOS: SÃO PEDRO E SÃO PAULO

Mosaico em pastilha de vidro representando a Basilica de São Pedro, no Vaticano, em Roma. Cesar Formenti. Igreja dos Capuchinhos, Tijuca.

No dia 29 de junho a comunidade católica mundial comemora o Dia dos Apóstolos São Pedro e São Paulo.

São Pedro, também chamado o Príncipe dos Apóstolos, nasceu na Galileia e foi batizado Simão, mas teve o nome trocado pelo próprio Cristo, decretando assim a escolha de Pedro como a pedra angular da Sua Igreja. É considerado o primeiro Papa da Igreja Católica. Morreu por volta do ano 64, após longo pontificado. Na Iconografia Cristã tem sido representado de várias formas. Na maioria das vezes, ele aparece como um homem velho, barbado, portando às mãos uma ou mais chaves – uma vez que Cristo lhe confiou as portas dos céus. Pode apresentar-se, ainda, junto a uma embarcação ou junto a petrechos de pesca, como a rede – já que era pescador de profissão; com um peixe nas mãos – já que foi pescador de homens; um galo sobre uma coluna – em referência às três vezes em que negou Cristo antes do amanhecer; um livro, já que foi Apóstolo; com a cruz papal de três ramos e vestido como Papa – já que foi o fundador da Igreja Católica; ou ainda junto a uma cruz de cabeça para baixo, em referência ao modo em que foi mandado martirizar, por ordem do Imperador Nero.

São Paulo é chamado o Apóstolo dos Gentios pois, embora nunca tenha tomado parte do grupo dos doze apóstolos, com seus escritos teve grande importância na difusão do Cristianismo nascente. Teria nascido em Tarso, na antiga Cilícia (parte da atual Turquia), e teve seu nome trocado de Saulo para Paulo após conversão ao Cristianismo. Capturado em Roma, recebeu a sentença da decapitação, branda para os padrões da época, por ser cidadão romano. É representado, iconograficamente, como um homem robusto – embora fosse franzino -, barbado e carregando uma espada – alusão ao seu martírio – e um livro, como os apóstolos. Por vezes aparece junto a uma cesta, em alusão a uma fuga espetacular.

Nos dias de hoje o Rio de Janeiro não possui, infelizmente, qualquer igreja colonial dedicada a nenhum dos dois santos. A abertura da Avenida Presidente Vargas foi responsável, já em 1944 – apesar dos esforços do SPHAN[1] – pela criminosa derrubada da setecentista Igreja de São Pedro dos Clérigos e sua planta em arcos de circunferências, única na cidade e absolutamente original dentre as igrejas barrocas brasileiras (vista aqui).

Mais recentemente a cidade conheceu outros templos em devoção a São Pedro. Destes, destacam-se a Igreja de São Pedro Apóstolo, na Rua Cardoso Marinho, 57, no Santo Cristo, hoje totalmente em ruínas e quiçá perdida para sempre. Outra paróquia, a de São Pedro Apóstolo, possui dois templos na Rua General Clarindo, no Engenho de Dentro. O mais antigo deles, terminado em 1940 e tombado pela Prefeitura, tem (ou teve) vitrais executados em 1949 pela Casa Conrado a partir de desenhos do pintor Carlos Oswald. Em péssimo estado de conservação, ameaça ruir, como tantos outros. O outro templo, no número 632, data dos anos 1960.

Dos templos em bom estado de conservação, citem-se o da Venerável Irmandade do Príncipe dos Apóstolos São Pedro, na Avenida Paulo de Frontin, no Rio Comprido. Uma pesquisa no Google traz ainda o templo da Paróquia Apóstolo São Pedro, na Rua Antonio Saraiva, no bairro do Cavalcanti.

Dos templos em devoção a São Paulo destacam-se a Paróquia São Paulo Apóstolo, na Rua Barão de Ipanema, em Copacabana, e a Igreja Anglicana de São Paulo, na Rua Paschoal Carlos Magno, em Santa Teresa.

Nossa coleção de referências a estes dois mártires – ainda um tanto modesta – traz abaixo algumas imagens.

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Glória, Largo do Machado.

A fachada da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Glória do Largo do Machado ostenta esculturas dos dois santos. Posicionadas nos vértices do frontão centralizado por uma cruz, terão sido esculpidas pelo mesmo artista que executou o baixo-relevo do tímpano, o espanhol Francisco Mutido? São Paulo porta um livro na mão esquerda e apóia uma espada no chão. Já São Pedro tem a mão direita levantada e ampara com a mão esquerda livro e duas chaves em posição simétrica.

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Glória, Largo do Machado.

Também os dois vitrais da porta pára-vento da Igreja de Nossa Senhora da Candelária, no Centro, produzidos em Munique (Alemanha) pelo mestre vidreiro Franz Xaver Zettler, representam São Pedro e São Paulo. O vitral de Pedro, com duas chaves e um livro, pode ser visto abaixo, à esquerda. Assinado FX ZETTLER – MUNICH.

Igreja da Candelária, Centro.

Num dos altares laterais da Igreja dos Capuchinhos, na Rua Haddock Lobo, 266, na Tijuca, um belíssimo trabalho retrata a Basílica de São Pedro, no Vaticano, onde o santo jaz enterrado, segundo a tradição católica. Trata-se de uma composição em mosaico de pastilhas de vidro magistralmente executada pelo artista ítalo-brasileiro Cesar Formenti (visto no começo desta postagem)

Uma última referência a São Pedro que encontramos em nossos arquivos se encontra num dos baixos-relevos do Museu Nacional de Belas Artes, executados pelo artista inglês Edward Caldwell Spruce. Tratam-se das colunatas de Bernini na Praça de São Pedro, no Vaticano, defronte à Basílica de São Pedro.

Museu Nacional de Belas Artes. Avenida Rio Branco, 199, Centro. A fachada voltada para a Rua México traz quatro enormes baixos-relevos do inglês Spruce, dentre os quais este acima, que retrata ao fundo as colunatas da Praça de São Pedro, no Vaticano, projetada pelo italiano Gian Lorenzo Bernini.

[1] Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, hoje IPHAN.

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