
Olá, amigos! O bairro da Tijuca já foi dotado de inúmeras e imensas chácaras com seus casarões e homens notáveis. Num desses casarões morou o Barão de Mesquita (Jerônimo José de Mesquita, 1826-1886), nos terrenos onde hoje está o belo prédio art déco da Fundação Bradesco, que outrora abrigou o Instituto Lafayette. Do palacete original nada restou senão os gradis que cercam a propriedade.
Não se anime ainda, leitor. Não é esse prédio que vamos estudar hoje. Hoje vamos falar do imóvel vizinho, no número 239 da mesma rua, a Rua Haddock Lobo.
Jesuíno Rodrigues Samarão, o vizinho do Barão de Mesquita, teria nascido por volta do ano de 1874 na vila de Monção, no distrito português de Viana do Castelo, filho de João Rodrigues Samarão e Maria Cerqueira, e falecido em agosto de 1938, após constituir família no Rio de Janeiro e amealhar boa fortuna no comércio de materiais de construção.
Foi no ano de 1914 que Samarão, já casado com Hermesilia Vianna Samarão, filha do empreiteiro e construtor João Gomes Vianna, mandou erguer sua nova residência no bairro da Tijuca – um imponente palacete projetado no esplendor da criação eclética, com 3 andares, dotado de elevador e extenso terreno, que em seus 3500 metros quadrados se estendia até o número 218 da Rua Barão de Itapagipe. Possuía 22 cômodos, capela e até garagem para automóveis – um luxo para a época! A concorrida inauguração do palacete, batizado Villa Hermesilia em homenagem à proprietária, se deu no dia 15 de agosto de 1915, com direito a missa particular.
O Jornal do Commercio do dia 22 de janeiro de 1939, ao noticiar o leilão do “majestoso palácio”, com “móveis, obras de arte, pratarias e tudo o mais”, informava que “todo o seu acabamento interno é de esmerado gosto artístico, sendo todo decorado e pintado por João Thimoteo” (sic), mas o fato é que o grande tríptico que hoje lá se encontra não é deste artista, e sim de seu irmão mais novo, Arthur Timotheo da Costa, que teria inclusive aposto o endereço de seu ateliê na obra: Rua Gonçalves Dias, 15, um prédio que ainda se encontra de pé nos dias de hoje – viva!
Lembremos, entretanto, que esses dois irmãos-pintores trabalharam em colaboração em inúmeros projetos, entre eles os salões nobres do Fluminense Football Club (1920-4), nas Laranjeiras, do Palácio Tiradentes (1925), no Centro, e do Hotel Copacabana Palace (1925), em Copacabana.
Na galeria abaixo estão as imagens desta pintura. Por estar numa parede interna que não permite um grande afastamento da câmera, foi preciso fundir a peça em duas imagens. O resultado – pífio, concordo – está aí.
Chegava ao fim a glamourosa trajetória da Villa Hermesilia, seis meses após a morte do proprietário, e o palacete finalmente entrava, com atraso de quase quatro décadas, na “vida moderna” típica do século XX.
A trajetória do imóvel é meio nebulosa nos anos 1940. Não é certo que tenha permanecido com os Samarão, mas o certo é que as vacas emagreceram. O Jornal do Brasil desse período traz vários anúncios classificados com a venda de marmitas e o aluguel de cômodos de uma “pensão familiar”.
Foi só no ano de 1948 que o casarão seria adquirido para seu fim atual. Num esforço do vereador José Soares Sampaio, então presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Fumo, e um empurrãozinho do General Eurico Gaspar Dutra, então Presidente da República, o imóvel passaria à propriedade daquele sindicato.
O edifício sofreu ampla restauração em 1993. A fachada está hoje mais ou menos bem conservada. No alto do prédio principal, visto em foto de 1949 no início desta postagem, um monograma HS aponta para as iniciais do nome da proprietária original – Dona Hermesilia Samarão (abaixo).

A ornamentação externa, toda em estuque, é riquíssima. Uma cúpula junto ao torreão principal traz grande águia de asas abertas. É a cúpula que coroa o vão do elevador. Os vidros jateados das janelas do sótão apresentam florões bem como as iniciais HS, mais uma vez. Já as bandeiras e vidraças das portas das varandas, no andar mais alto, recebem vitrais trabalhados.
A entrada principal se dá pela escadaria lateral, ao final da qual, já no andar de acesso, notam-se o belo piso em azulejo hidráulico e um grande baixo-relevo, tomando toda a parede externa, de uns 4 metros, aproximadamente, com uma cena campestre onde se veem putti colhendo trigo capitaneados por uma sensual Demeter – deusa grega da Agricultura -, seios à mostra, coroa de ramos de trigo à cabeça e duas pombas entre os braços. Ao final desse corredor de entrada, a porta principal de acesso, emoldurada por mascarões e encimada por frontão triangular, apresenta riquíssimo trabalho em marcenaria.
Por fim, incluí abaixo uma série de fotografias da fachada e do interior do imóvel. Divirtam-se!