
Olá, amigos! Peço perdão aos meus parcos leitores pelo trocadilho, mas não resisti. Apesar de infame, como diria o outro, ele tem razão de ser. É que no imóvel de que trataremos hoje, construído ainda no tempo do Brasil Império (entre 1887 e 1888), quando governava um Bragança (Dom Pedro II), funciona hoje uma loja chamada Império das Pelúcias. Pronto!
O imóvel em questão é o prédio neomanuelino da Rua da Conceição, número 19. Ao observador mais atento basta conferir-lhe as feições arquitetônicas para desconfiar que ali esteve presente alguma instituição portuguesa ou relacionada àquele país.
Bingo! Acertou quem disse Associação Portuguesa de Beneficência Memória a Luiz de Camões!
Estava guardando esta postagem para o momento em que pudesse visitar mais uma vez o prédio e sacar-lhe boas imagens, mas a malfadada da pandemia não me tem permitido fazê-lo. Sendo assim, peço uma vez mais desculpas aos leitores, mas o texto vai antes das fotos, ok? Uma exceção será a imagem acima, retirada do Google Street View, só para não deixar ninguém de mãos vazias, digo, de “olhos vazios”…

Fundada em 10 de junho de 1880, a Associação Portuguesa de Beneficência Memória a Luiz de Camões perambulou por alguns endereços da rua do Hospício (atual Buenos Aires) antes de se estabelecer em sua sede “definitiva”. Foi só por volta de novembro de 1886 que a associação anunciava a contratação do empreiteiro Bento Maria Machado e do arquiteto Antonio Ferreira da Rocha para construírem uma nova sede no imóvel então localizado no número 11 da rua da Conceição, adquirido por 10:005$000.
Brasil Gerson nos conta que o nome original da rua era Rua da Pedreira da Conceição, aberta para dar passagem aos blocos de pedra utilizados para a construção da Sé Nova, no largo de mesmo nome e hoje de São Francisco de Paula – já que a Sé Nova não vingou. Posteriormente reduzida para Rua da Pedreira e Rua da Conceição, apenas, ela já teve seu nome alterado para Rua Minas e Rua Vasco da Gama, mas por volta de 1917 voltou à sua denominação quase original.
Sobre a fachada, publicou o Diário de Notícias do dia 19 de fevereiro de 1888: “Todo construído no estilo manuelino, primorosamente ornado, toda a frontaria de cantaria cinzelada admiravelmente e com verdadeiro gosto artístico, o edifício da associação é um verdadeiro monumento, que atesta os esforços dos que empreenderam a gloriosa ideia de, perpetuando a memória de Camões, ilustrarem os seus espíritos e beneficiarem os seus consócios.”
De fato, o elemento mais notável da fachada é, sem dúvida, a cantaria neogótica, mas igualmente digno de nota é o trabalho absolutamente original em fundição do gradil, que percorre toda a extensão da fachada, inclusive serpenteando em volta das quatro colunas que dividem a frontaria.
No pequeno frontão triangular previu-se instalar um medalhão com a efígie do homenageado. Modelado em madeira pelo entalhador Manoel Ferreira Tunes e executado em bronze nas oficinas de Antonio dos Santos Carvalho e Joaquim José Moreira Filho, da Carvalho, Moreira e Cia., o dito medalhão já se encontrava em exposição no dia 1º de outubro de 1887, na Casa Costrejean, na rua do Ouvidor, conforme anunciava o Diário de Notícias daquele dia.
Por ocasião dos testes da iluminação a gás do edifício, esse mesmo Diário de Notícias trazia, em sua edição do dia 19 de fevereiro de 1888, uma elucidativa matéria. Por ela, e para nosso regozijo, ficamos sabendo que:
a) todo o trabalho de cantaria, em granito nacional, foi devido ao cinzel de José Francisco Ribeiro;
b) toda a pintura decorativa e ornamental foi contratada com a firma Gonçalves, Terra & Cia.;
c) a talha em madeira e o mobiliário foram trabalhados inteiramente com madeiras nacionais pelas oficinas do Sr. Francisco José Monteiro;
d) o gás, água e esgoto são devidos aos esforços e trabalho do Sr. Joaquim José Corrêa;
e) o empreiteiro foi o “conhecido” Sr. Bento Maria Machado;
f) o projeto arquitetônico é do Sr. Antonio Ferreira da Rocha.
A inauguração do novo edifício se deu num sábado, 17 de março de 1888.
Sobre o prédio da associação, terminamos aqui, mas merece ainda um breve parêntese a atuação do arquiteto Antonio Ferreira da Rocha. Ele é o responsável pelo projeto do Hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência, na Rua Santo Amaro, conforme o atesta a planta abaixo, retirada dos Anais da Biblioteca Nacional de 1881, bem como do excepcional palacete eclético de inspiração militar medieval da Rua Triunfo, número 38, em Santa Teresa, também reproduzido abaixo.


Muito legal!!! Hoje vai ser realizada uma live pelo historiador da Alerj e mestrando em História na UFF, Douglas Libório, no Instagram, sobre Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro. Será em @ds_liborio. Deve ser interessante… Abração!
muito bom seu trabalho! trabalhei nos verbetes do Guia de Arquitetura do Rio de Janeiro lançado ha uns anos atras e pesquisei no seu blog! hehehe muito bom, obrigada!
Maravilhosa pesquisa !
Muito bom. Só faço um adendo: as grades são fundidas, não de serralheria. Que pena que não sabemos qual fundição fez as peças.
Muito obrigado pela colaboração, Fernando! Um abraço!