O RIO DE TODOS OS SANTOS: SANTA LUZIA, OLHAI POR NÓS

Olá, amigos! Hoje é 13 de dezembro, Dia de Santa Luzia, e nada mais indicado do que uma breve homenagem a esta casa tão intimamente relacionada à cidade do Rio de Janeiro: a Igreja de Santa Luzia.

A Igreja de Santa Luzia em fotografia de 2016.

Quem passa na Rua de Santa Luzia, onde por longo tempo o mar despejou a força de suas águas, e aprecia a beleza dessa igreja carioca, pode ler o que está escrito numa placa dedicada a este monumento histórico oitocentista:

“Uma pequena ermida consagrada a Santa Luzia era, em 1592, o único edifício na Praia da Piaçava (ver nota, abaixo), posteriormente chamada Praia de Santa Luzia. Nela estabeleceram-se, durante 15 anos, os primeiros frades franciscanos. Em 1732 a Irmandade edificou nova igreja em terreno próximo, na mesma praia, de fachada muito singela. Em 1872, o templo sofreu remodelação, assumindo maiores proporções, segundo projeto do Mestre Antonio de Pádua e Castro. A Rua Santa Luzia foi aberta por imposição de Dom João VI, que pretendia se locomover com sua carruagem diretamente do Convento da Ajuda à Igreja para cumprir promessa e assistir à missa. Com o desmonte do Morro do Castelo e o aterro dele proveniente, a Igreja de Santa Luzia perdeu sua praia e secou sua fonte de água límpida, tida como milagrosa para as enfermidades dos olhos. A fachada apresenta elementos do estilo neoclássico. Os três altares são do Mestre Antonio de Pádua e Castro. Atrás do altar encontra-se a sala das promessas, com uma imagem de Santa Luzia em mármore branco, de onde jorra água cristalina, substituindo a fonte original.”

(Nota do blog, 1: o texto original na placa se refere, erroneamente, à Praça da Piaçava, logradouro mais recente localizado nas imediações do atual Humaitá).

(Nota do blog, 2: o incrível desmonte do Morro do Castelo se deu nos primeiros anos da década de 1920, na prefeitura de Carlos Sampaio, por razões até hoje meio obscuras).

O grande Augusto Maurício, em seu livro Templos Históricos do Rio de Janeiro, vai além:

“No ano de 1592, na Praia da Piaçava (hoje Santa Luzia) – então extensa faixa de areia branca, no sopé do Morro do Castelo, só havia um único edifício, e esse mesmo de aparência pobre e sem maiores atrativos, a não ser o fim piedoso a que se destinava. Era a pequena ermida de Santa Luzia, construída pelos pescadores da redondeza, e que o povo procurava cheio de fé, na ânsia de conquistar os favores espirituais da milagrosa Virgem-Mártir. Quando aqui chegaram, vindos da Bahia, os primeiros frades franciscanos – Frei Antônio dos Mártires e Frei Antônio das Chagas, já encontraram a ermida, na qual se estabeleceram, com o prévio consentimento da respectiva confraria já existente naquela longínqua época. A passagem dos frades pelo pequeno templo teve caráter provisório, porquanto 15 anos depois mudaram-se para o Morro de Santo Antônio onde construíram o seu Convento. Com o passar dos anos, porém, a capela foi envelhecendo e já ameaçava ruína, quando a Irmandade resolveu reerguê-la, nos meados do século 18. Não o fez, no entanto, no mesmo sítio em que se achava a velha ermida, mas em terreno próximo, também à beira-mar, o qual fora doado por João Pereira Cabral e sua mulher, para esse fim religioso. Assim, por provisão datada de 12 de janeiro de 1752, foi edificada a igreja que, àquele tempo contava apenas com uma torre bastante acanhada, e a frontaria tinha só uma porta de entrada sem a conveniente largura.”

Lembremos ainda do trabalho do artista Guga Ferraz, que em 2010 espalhou grandes quantidades de sal nos antigos limites da Praia de Santa Luzia (ver foto abaixo).

A instalação “Até Onde o Mar Vinha, Até Onde o Rio Ia”, do artista Guga Ferraz. Cortesia de https://daniname.wordpress.com/2010/03/29/e-eles-abriram-a-caixa-parte-1/

O pintor alemão Eduard Hildebrandt (1818-1869), que esteve na cidade em 1844, produziu a bela aquarela abaixo, onde se veem a Igreja de Santa Luzia e a praia de mesmo nome, cujas areias lhe vinham quase à porta.

Eduard Hildebrandt. Igreja de Santa Luzia, Rio de Janeiro. 1844.

Agora, um pouquinho para a santa. Segundo Jorge Campos Tavares em seu Dicionário de Santos, Luzia de Siracusa foi uma “virgem que, segunda a lenda, terá ido de Siracusa, com sua mãe doente, a Catânia, ao túmulo de Santa Águeda. Tendo-se curado a mãe, Luzia distribuiu os seus bens pelos pobres. Denunciada por ser cristã ao cônsul Pascácio, foi condenada a ir para um bordel. Embora levada à força, resistiu de tal maneira que nem duas juntas de bois a conseguiram arrastar até lá. Foi martirizada de modo cruel, sendo-lhe arrancados os olhos. Finalmente, foi degolada em 304. Tem como atributos dois olhos num prato e, ocasionalmente, uma junta de bois.

Por fim vai abaixo uma pequenina imagem da santa, do século XIX, parte da minha singela coleção de arte sacra.

Por hoje é só, amigos!

2 Comentários

  1. muito legal!!! Uma dúvida: a praia seguia o que hoje é a Rua de Santa Luzia, passando no que hoje é a Santa Casa, é isso?

    1. Isso mesmo! A praia também banhava a Santa Casa da Misericórdia, uma instituição contemporânea à Irmandade de Santa Luzia.

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