O RIO DE TODOS OS SANTOS: SANTA BÁRBARA

No dia 4 de dezembro o mundo cristão comemora o Dia de Santa Bárbara, além do nascimento do meu querido filho João Paulo.

Talvez a primeira coisa que venha à cabeça do carioca ao lembrar dessa santa seja o longo túnel que liga os bairros do Catumbi e das Laranjeiras, aproximando a Zona Norte da Zona Sul. O Túnel Santa Bárbara teve suas obras iniciadas em 1947, mas só foi inaugurado muitos anos e percalços depois, em abril de 1964.

Um desses percalços foi o grande deslizamento de rochas que ceifou a vida de 18 operários durante a construção.

Mas o que isso tem a ver com o patrimônio construído da cidade do Rio de Janeiro? Pois bem, parece o que tal deslizamento formou uma imensa gruta sobre o túnel, e foi aí que surgiu a ideia de construir uma capela em memória dos 18 operários mortos. Um grande painel de azulejos foi então instalado, da autoria da artista avareense Djanira da Motta e Silva (1914-1979), e é essa imagem que ilustra esta página.[1]

Segundo a Wikipedia, Bárbara nasceu na Nicomédia (atual Ismide, na Turquia) no ano de 280. É comemorada pelas Igrejas Católica Romana, Ortodoxa e Anglicana.

O pai a encarcerou no alto de uma torre para evitar que se convertesse ao Cristianismo. Esse mesmo pai, ao decapitá-la, foi imediatamente fulminado por um raio. Por esses motivos é representada iconograficamente junto a uma torre, mas também tem como seus diversos atributos o raio, a palma, a coroa, a espada, uma pena de pavão, a hóstia por cima de um cibório (cálice), um canhão, uma bala. Em Portugal e no Brasil, sua devoção se tornou muito popular, sendo invocada como protetora por ocasião de tempestades, raios e trovões.

Segundo o Dicionário de Santos do Jorge Campos Tavares, é padroeira dos artilheiros, fogueteiros, dos fabricantes de fogos de artifícios e dos mineiros que lidam com explosivos – daí talvez a explicação por terem lembrado seu nome ao batizar o túnel carioca. É também padroeira dos encarcerados, dos pedreiros, dos arquitetos, dos sineiros, dos tecelões e dos chapeleiros.

Em função da alta umidade do local, o painel Santa Bárbara se deteriorou rapidamente, e no ano de 1985 a FUNARJ removeu a obra da capela e a encaminhou para restauro. Hoje ele repousa no pátio interno do Museu Nacional de Belas Artes, pelo bem de sua preservação.

Em tempo, 1: há uma igreja em devoção a Santa Bárbara na rua dos Topázios, no bairro carioca de Rocha Miranda. Na Fortaleza de Santa Cruz da Barra, em Niterói, existe ainda a Capela de Santa Bárbara, uma joia arquitetônica do século XVII, de linhas absolutamente originais!

Em tempo, 2: no sincretismo religioso brasileiro, Santa Bárbara é Iansã para as religiões africanas do Candomblé e da Umbanda.


[1] Há alguns anos estive no MNBA fotografando este painel. Como não houve maneira de encontrar a imagem, recorri à Wikimedia Commons, de onde veio esta, do fotógrafo Dornicke, que ainda nos informa que o painel possui 5300 azulejos distribuídos por 130 metros quadrados. Obrigado!

3 Comentários

  1. Denise Magalhaes · · Responder

    Lu, adorei seu texto!
    Muito bem escrito.
    Agradável!
    E surpreendente.
    Não sabia nada dessa história…
    A Teca me enviou…
    Parabéns e obrigada por esse pedacinho da cultura do Rio de Janeiro.

    1. Beijão, Dê! Disponha!

  2. Eu já estive nesta capela dentro do túnel Sta Bárbara, fui motorista da Comlurb nos anos 80/90, e trabalhei com caminhão pipa água, e fazíamos a lavagem das paredes deste túnel, e o trânsito ficava interrompido p podermos fazer o serviço com segurança, claro à noite de 00.00 as 4.00 hs, eu em umas destas vezes tive a oportunidade de entrar nesta gruta, se citua na pista sentido presente Vargas bem na metade.

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