MINISTÉRIO DA FAZENDA: AS OBRAS DE ARTE DO JARDIM DE INVERNO
Olá, amigos! Escrevo hoje sobre as obras de arte colocadas no jardim de inverno do edifício-sede do Ministério da Fazenda no Rio de Janeiro, na Avenida Presidente Antonio Carlos, 375, no Centro. Antes, porém, permitam-me uma rápida explicação histórica.
Através do Decreto número 24.504, de 29 de junho de 1934, Getúlio Vargas autorizou a criação de um concurso para escolher o projeto da nova sede do Ministério da Fazenda, que deveria ser construída no lugar da antiga, na Avenida Passos – o mesmo prédio que outrora havia sido sede da Academia Imperial de Belas Artes, projetado pelo arquiteto francês Grandjean de Montigny e aqui tratado nesta postagem.
Saiu vencedor do concurso – entre 28 concorrentes – o projeto dos arquitetos Enéas Silva e Wladimir Alves de Souza – um prédio “em linhas modernas, de feição racional, predominando na fachada o brise soleil”.[1]
Anunciado o resultado do concurso e premiados os vencedores, quis o ditador voltar atrás quanto ao local da construção,[2] e acabou decidindo pelos vastos terrenos da Esplanada do Castelo[3] para abrigar seu “sólido e imponente edifício”.[4] Estávamos em pleno Estado Novo, quando mais do que nunca prevalecia a máxima “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”. O projeto finalmente executado foi o do arquiteto Luiz Eduardo Frias Pereira de Moura, de 1939, um imenso templo neogrego de concreto armado com 102 mil metros quadrados, bem ao encontro das pretensões da propaganda varguista de poder.
Bem, passemos agora ao que especificamente nos interessa aqui – as obras de arte do jardim de inverno localizado no 14° andar do gigantesco edifício.[5]
Ali encontramos duas esculturas e cinco mosaicos em pastilhas de vidro. As esculturas, construídas em vidrado cerâmico, são de Hildegardo Leão Velloso (Palmeiras/SP, 1899 – Rio de Janeiro, 1966), famoso por ter tomado parte da notória Semana de Arte Moderna de 1922. Representam duas cenas em temática indígena: na primeira, à direita do observador, um destemido nativo enfrenta uma onça, tacape em punho; a escultura da esquerda revela uma índia dominando uma imensa cobra, tendo a seu lado uma anta. O braço dominador e a cabeça da serpente, infelizmente, estão faltando hoje. Emolduram as duas cenas plantas supostamente nacionais. Na base dessa segunda escultura, à esquerda, o autor assinou H. LEÃO VELLOSO / RIO 1944.
Necessitam de restauração urgente, como tantas outras na cidade. Podem ser vistas abaixo.
Leão Velloso executou ainda, para o mesmo prédio, o busto do Presidente Getúlio Vargas.
Os cinco mosaicos em pastilha de vidro são do grande pintor, ilustrador e ceramista Paulo Werneck (Rio de Janeiro, 1907 – 1987), um dos introdutores da técnica do mosaico entre nós.
O artista teria sido convidado pelo arquiteto do prédio, Luiz Moura, porque sabia desenhar, apesar de ser da “corrente moderna”. O tema era livre, mas o site sobre o artista – paulowerneck.org – afirma que os primeiros desenhos propostos teriam sido recusados pela comissão construtora, pois eram por demais “avançados” para a época. Foram então substituídos por desenhos figurativos da mesma temática indígena, que até hoje lá estão.
Afirma Werneck, em seu depoimento sobre a obra, que foram seus modelos na concepção do índio e da índia um ajudante e uma funcionária da Escola de Belas Artes. “O índio representava um bravo que a serviço dos jesuítas defendia as Missões, chamava-se Sepé Tiaraju. (…) Um dos painéis representa a Amazônia, onde se vê um tucano. Em outro, temos patos selvagens, muita água, palmeiras…”[6]
Os mosaicos, de 1943, constituem a segunda mais antiga execução do artista na técnica. São anteriores apenas aqueles executados para o Instituto de Resseguros no Brasil, também no Rio de Janeiro, de 1942. A ideia de fazê-los em mosaico teria partido do arquiteto e amigo Marcelo Roberto, que apresentou Werneck a Jorge Ludolf, da Companhia Cerâmica Brasileira.
Dois deles possuem uma moldura azul, também em mosaico. Num deles, no canto inferior direito da imagem, está a assinatura do artista: PW.
Estão representados abaixo, em toda a sua imponência e beleza.
Falta agora escrever sobre os gigantescos baixos-relevos do hall, do escultor Humberto Cozzo. Aguardem. E não deixem de ler as várias postagens anteriores sobre este prédio, aqui mesmo, no site.
Um abraço e até a próxima!
[1] Ministério da Fazenda e outros. Edição comemorativa dos 60 Anos de Inauguração do Edifício-sede do Ministério da Fazenda no Estado do Rio de Janeiro. Brasília: ESAF, 2003.
[2] Diz a lenda que Vargas, referindo-se ao terreno resultante da derrubada do prédio da Avenida Passos, teria exclamado: – Ficou pequeno, né?
[3] A Esplanada do Castelo foi o imenso espaço resultante da derrubada do Morro do Castelo na gestão do Prefeito Carlos Sampaio (1920-1922).
[4] Foi assim que ao edifício se referiu o ditador ao iniciar o discurso de inauguração do edifício, em 10 de novembro de 1943.
[5] Qualquer cidadão tem o direito de entrar no prédio e pedir para ver as obras. Conseguir é outra estória. Gato escaldado, eu costumo dizer que “vou ao SPU”…
[6] Op. Cit.