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SPRUCE E A FACHADA CEGA DO MNBA

AVENIDA RIO BRANCO, 199
ANTIGA ESCOLA NACIONAL DE BELAS ARTES,
PROJETO ORIGINAL DE ADOLFO MORALES DE LOS RIOS, 1906
ATUAL MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES

EDWARD CALDWELL SPRUCE (1849-1923) | QUATRO BAIXOS-RELEVOS EM TERRACOTA | 1906-08

Os quatro baixos-relevos executados por Spruce estão posicionados na fachada cega da Rua México. Acima e abaixo estão os dois maiores do MNBA, dentre os maiores da cidade, com cerca de 8 metros de comprimento, cada um. O baixo-relevo acima retrata um momento de intensa movimentação na vida cotidiana do Antigo Egito. Nele vemos operários, escultores, ceramistas, capatazes e até faraós. Destacam-se três esculturas: a de um faráo sentado no momento em que é esculpida (à esquerda), a de uma esfinge – corpo de leão e cabeça de faraó – sendo puxada por operários (ao centro) e a de um grande touro alado com cabeça humana, também conhecido na mitologia mesopotâmica como Lamassu ou Shedu, sendo finalizada por dois artistas (à direita). Assinado E. CALDWELL SPRUCE SC no canto inferior direito.

No baixo-relevo acima Spruce presta uma homenagem á vida artítica da antiguidade clássica, na qual se podem observar escultores, templos, capitéis, professores e seus discípulos, etc.

A cena acima traz doze pessoas em três grupos. O grupo central, formado por três pessoas, é dominado pela alegoria da Arquitetura, trazendo uma maquete nas mãos e tendo à sua direita figura também relacionada à Arquitetura, pois conduz esquadro, fio de prumo e desenho. À sua esquerda está a Escultura, que tem à mão uma estatueta. O grupo no canto inferior esquerdo, composto por quatro pessoas, é dominado pela figura de um escultor e seus instrumentos de trabalho. No grupo da direita, de cinco pessoas, vê-se um sacerdote, crucifixo em punho. Completam cada grupo, no primeiro plano, sentadas nos degraus das escadarias de um suposto templo, duas mulheres apontando para livros abertos. Seria possível ver na da esquerda uma alegoria às letras profanas, já que ela tem os seios à mostra, enquanto a da direita, mais recatada, representaria as letras sagradas? Ao fundo nota-se parte da fachada do Erechtheion e as colunas em círculo da Praça de São Pedro, no Vaticano, de Bernini. Pode-se perceber ainda, no chão, outro evidente símbolo relacionado à arquitetura clássica: um capitel coríntio.

A imagem acima, em semelhante composição espacial, apresenta nove pessoas em três grupos. O grupo central está dominado pela alegoria da Pintura, uma jovem mulher portando pincéis e paleta de tintas à mão esquerda e folha de palma à mão direita. Os seios, desnudos, simbolizam o caráter da arte de ser alimento do espírito, assim como é o leite materno para o recém-nascido, e a simbólica da palma está associada à verdade. À direita da jovem uma figura, ao mirar-se no espelho, também pretende simbolizar a busca da verdade da natureza na obra de arte. À sua esquerda estão as Artes Decorativas, que tem à mão uma ânfora. O artista procurou aqui deixar evidente o caráter educativo da recém-criada escola. Diversas atividades relacionadas ao ensino da arte estão sendo executadas: a discípula que exibe ao mestre o andamento de seu trabalho, o jovem que apreende o que vê na disciplina de Modelo Vivo, outro que manipula a prensa de gravação. È curioso observar ainda que o mundo de idéias de Spruce parece bastante associado aos preceitos iconológicos estabelecidos por Ripa em sua Iconologia, publicação de fins do Século XVI que influenciou notavelmente os artistas do passado – e possivelmente ainda o faça com muitos artistas da atualidade.

Além dos trabalhos realizados para o MNBA, não se tem notícia de nenhum outro trabalho realizado por este artista no Brasil.

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