COSME, DAMIÃO E QUEM?

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Olá, leitores! Outro dia, em minhas andanças fotográficas à procura de alguma nova decoração de fachada para meus arquivos, descobri no bairro do Catete, para minha felicidade, um pequenino ornamento para lá de interessante. Repousa a pequena escultura em argamassa no interior do frontão de um sobrado novecentista da Rua Tavares Bastos, número 10, hoje pintado num extravagante amarelo com detalhes em rosa.

Analisando a foto acima vemos a representação quase trivial de dois santos bastantes conhecidos nossos: Cosme e Damião. Mas reparemos que, à direita deles e vestida exatamente como eles, há uma terceira figura, em menor tamanho. Quem será?

Acertou quem pensou Doum.

Sobre os irmãos Cosme e Damião já sabemos, por Jorge Campos Tavares, que “eram dois irmãos gêmeos de origem árabe que exerciam medicina gratuitamente na intenção de divulgar a Fé de Cristo. Teriam sido martirizados em 287 no tempo de Diocleciano. São padroeiros dos médicos, dos cirurgiões, dos farmacêuticos, dos barbeiros e dos herbanários. Iconograficamente, apresentam-se vestidos de doutores, com vestes forradas de peles, chapéu ou barrete de doutor e têm como atributos um estojo de cirurgião, um vaso de farmácia, uma caixa de unguentos, uma lanceta ou uma espátula para preparar pomadas e bálsamos, ou um urinol (frasco de vidro para examinar urina, exame muito importante na medicina antiga).”[1] Como mártires que são, carregam a palma da ressurreição. No Brasil, sua festa é comemorada no dia 27 de setembro.[2]

Nas religiões de origem africana, como o Candomblé e a Umbanda, o sincretismo religioso os associou a Ibeji, orixá protetor dos gêmeos. Para saber mais sobre o assunto, clique aqui.

Mas e Doum, afinal?

O Candomblé e a Umbanda acreditam que, a cada dupla de gêmeos nascidos, um terceiro não encarna nesse mundo. Esse terceiro, “aquele que não veio”, é Doum (ou Idowu), entidade que personifica as crianças e é seu protetor. Para saber mais sobre Doum, clique aqui.

O tema é espinhoso, e portanto paro por aqui. Meu interesse foi apenas o de registrar a ocorrência de tão interessante ornamento numa fachada carioca – ainda que extemporâneo, a meu ver, à construção do sobrado.

 

[1] Tavares, Jorge Campos. Dicionário de Santos. Porto: Lello e Irmão Editores, 1990.

[2] Não custa lembrar que no município pernambucano de Igarassu está, segundo o IPHAN, a mais antiga igreja católica do Brasil, iniciada em 1535. Trata-se da Igreja Matriz de São Cosme e São Damião.

2 Comentários

  1. José Roberto Teixeira Leite Jr. · · Responder

    A ideia do verbete nasceu da nossa resenha em Búzios?

    1. Não, Zila. A resenha em Búzios é que nasceu em função da ideia do verbete. Beijos.

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