O MAIS BELO BAIXO-RELEVO DO RIO DE JANEIRO

RUA DA CANDELÁRIA, 9
PALÁCIO DO COMÉRCIO OU CASA DO EMPRESÁRIO
PROJETO DE HENRI PAUL PIERRE SAJOUS E AUGUSTE RENDU, 1935
CONSTRUÍDO POR DOURADO S.A. 

BAIXOS-RELEVOS EM MÁRMORE
ALBERT FREYHOFFER, 1940

É muita responsabilidade ser “o mais belo baixo-relevo da cidade”, numa cidade cheia de belos baixos-relevos. Mas o leitor haverá de me dar razão ao visitar a sede da Associação Comercial do Rio de Janeiro, também conhecido como Palácio do Comércio ou Casa do Empresário, na Rua da Candelária, 9, no Centro do Rio de Janeiro.

Pois bem. O projeto original, do arquiteto francês Henri Paul Pierre Sajous[1], previa uma localização mais arejada para o prédio, que por aquela época podia ser avistado à distância. Construções mais recentes, entretanto, trataram de escondê-lo do carioca e sua apreciação ficou hoje muito prejudicada.[2]

Em vários de seus projetos o arquiteto Sajous formou uma bem sucedida parceria com o escultor belga Albert Freyhoffer.[3] No coroamento do prédio há um grande baixo-relevo – de 300 x 200 cm – representando o deus mitológico Mercúrio, Padroeiro do Comércio, ao lado de duas alegorias, em menor escala, representando a Arquitetura e a Agricultura.[4]

Esse baixo-relevo externo pode ser visto abaixo, em dois momentos.

 

Guarde a imagem acima na cabeça, caro leitor. No último parágrafo voltaremos a ela. Não é esse baixo-relevo, ainda, o objeto do nosso interesse aqui…

Para contemplar e extasiar-se com o mais belo baixo-relevo da cidade, é necessário adentrar o hall do prédio. Esculpido em pedra de Caen, ele tem 12 metros de comprimento por 7 metros de altura e ocupa toda a face frontal do espaçoso hall da construção art déco.

O painel, em tríptico, retrata as riquezas do Brasil, e abaixo está um estudo feito pelo próprio Freyhoffer, com essas riquezas enumeradas e listadas.[5]

Agora, uma curiosidade misteriosa. Assim como no baixo-relevo do alto do prédio, visto no início da postagem – aquele para guardar na cabeça, lembra? -, o Mercúrio do hall está ladeado das alegorias da Arquitetura e da Agricultura. No desenho acima, podemos notar que a primeira, à esquerda do deus romano, traz consigo uma planta arquitetônica, ao passo que no baixo-relevo final – abaixo[6] – esta planta arquitetônica foi inexplicavelmente suprimida, e fica mesmo a impressão de que a alegoria da Arquitetura está “sentindo falta” de seu atributo, pois aponta com as duas mãos para baixo, onde nada se encontra, como a reclamar. O mais curioso é que, voltando mais uma vez ao baixo-relevo do alto da construção, a alegoria da Arquitetura recebeu ali um atributo: a maquete do próprio prédio!

Até a próxima!

 

[1] Sajous é o projetista de vários outros prédios de destaque na cidade, em especial o Edifício Biarritz, o Edifício Tabor e Loreto, a Igreja da Santíssima Trindade e o Edifício Mesbla – este último com participação do artista húngaro radicado no Brasil Geza Heller.

[2] Um bom ângulo de observação, enquanto não sobe um novo arranha-céu na esquina com Rua do Rosário, é a Rua Primeiro de Março, na altura do Centro Cultural da Justiça Eleitoral, antigo TRE-RJ.

[3] A historiografia não tem feito justiça a este artista, pois pouquíssimas são as obras nas quais ele é citado como autor. Além do Palácio do Comércio, aqui apresentado, Freyhoffer esculpiu os baixos relevos do Monumento Rodoviário da Rodovia Presidente Dutra, hoje totalmente abandonado. São ainda atribuídos a ele os belíssimos baixos-relevos do Edifício São Joaquim, antiga sede da Companhia Brasileira Rhodiaceta (Rhodia), na Rua Libero Badaró, 119, em São Paulo.

[4] A foto foi feita pelo fotógrafo Marcelo Naddeo, a quem agradeço.

[5] Muito das informações aqui coligidas foi buscado no excelente site sobre o arquiteto Henri Sajous, mantido por sua sobrinha-neta Marie Christine Sajous Clause em http://www.sajous-henri.com/palacio%20do%20comercio%20br.html.

[6] Infelizmente jamais recebi autorização para fotografar o baixo-relevo do hall “comme il faut“. Sendo assim tive de me contentar com essa imagem fortuita, feita com um celular…

 

 

2 Comentários

  1. GUTEMBERGUE de Carvalho · · Responder

    Excelente trabalho!!!! uma pergunta, o amigo já fez algum trabalho retratando o edifício “Brasília” aquele do final da Av. Rio Branco, próximo ao obelisco?????

    1. Obrigado, Gutembergue! Já sim! Existe no site uma postagem sobre o medalhão metálico do Edifício Brasilia, produzido pelo grande Humberto Cozzo. Faz uma busca! Um abraço, Luiz Eugenio

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