Os HOMENS VERDES CARIOCAS

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Rua do Riachuelo, 44

Recentemente andei escrevendo sobre gárgulas.[1] O assunto me interessou de tal forma que fui pesquisar mais. Interessava-me especificamente a gárgula central, misto de homem, morcego e sapo, que decora a fachada do Castelinho Francês, sobre o qual escrevi aqui em 23 de junho último. Nada decifrei, contudo, daquela identidade. Seria um político da época? Pode ser, já que políticos, sapos e morcegos têm muito em comum…

Eu já ficara surpreso ao constatar a presença às centenas daquela figura fantástica de aparência nada cristã na decoração das fachadas de igrejas góticas européias. Mas não poderia supor, do alto de minha ignorância de pesquisador, que assim como suas parentes, as gárgulas, também esses ornamentos fizeram do Rio do início do século passado sua morada.

Já contabilizei quase 20 deles escondidos por aí, e pelo jeito vou encontrar mais. São rostos masculinos, às vezes misturados com animais, cuja característica mais marcante é o excesso de folhas formando a face.

Mas afinal, de quem estamos falando? Quem são eles?

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Rua Mariz e Barros, 721, Tijuca.

Acertou quem leu o título! Eles são os HOMENS VERDES, termo cunhado em inglês (GREEN MAN) por Lady Raglan em 1939.[2]

O leitor que digitar GREEN MAN no Google Images vai entender sobre quem estou me referindo…

Ele aparece como ornamento decorativo tanto na arquitetura civil como na religiosa. É curioso notar que na Capela de Rosslyn, na Escócia, imortalizada pelo escritor americano Dan Brown em seu instigante Código da Vinci, há mais representações do Homem Verde do que do próprio Cristo![3] São 110 aparições!

Convém notar que, pela sua própria natureza “natural’ – perdoem o trocadilho -, o ornamento com freqüência parece estar presente nas construções ecléticas cariocas que mantém alguma afinidade estilística com o art nouveau – estilo surgido na Europa em fins do Século XIX e que se apropriou muito das formas naturais e das linhas curvas.

A postagem de hoje traz 15 homens verdes, com seus respectivos endereços, todos no Centro do Rio. Em achando novos, eu informo.

O leitor que desejar se embrenhar na selva de pedra carioca em busca de algum homem verde por aí, que o faça sem temor. Apesar da aparência, os homens verdes são bem mais mansos do que os de carne e osso…

[1] https://orioqueorionaove.com/2015/06/23/morcegos-dinossauros-gargulas-quimeras-dragoes/

[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Homem_Verde. Vale a leitura!

[3] Varner, Gary R. Gargoyles, Grotesques and Green Men. Ancient Symbolism in European And American Architecture. Estados Unidos: Lulu Press Inc., 2008.

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Avenida Rio Branco, 44 e 46, Centro. Antiga sede da Companhia Docas de Santos. Atual sede do IPHAN no Rio de Janeiro. Para saber mais sobre esse prédio clique nos links a seguir: http://orioqueorionaove.com/2012/11/06/a-fachada-do-iphan/ e http://orioqueorionaove.com/2012/09/19/iphan/

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Avenida Marechal Floriano, 57, Centro.

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Rua do Senado, 169, Centro.

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Avenida Mém de Sá, 252, Lapa.

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Rua do Senado, 244. Antiga Fábrica de Perfumarias Lambert.

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Acima e abaixo: Rua Buenos Aires, 145, Centro.

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Rua Uruguaiana, 45, Centro.

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Rua Sacadura Cabral, 203, Saúde.

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Rua da Relação, 22, Centro. Coloquei essa imagem, a título de colaboração, no verbete HOMEM VERDE da Wikipedia.

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Avenida Mém de Sá, 102, Lapa, um dos sobrados ecléticos de arquitetura mais original da cidade.

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Rua Gonçalves Dias, 70, Centro.

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Rua André Cavalcanti, 54, Centro.

Até a próxima!

 

3 Comentários

  1. Monica De Lorenzo · · Responder

    Rémi Astruc has argued that although there is an immense variety of motifs and figures, the three main tropes of the grotesque are doubleness, hybridity and metamorphosis. Beyond the current understanding of the grotesque as an aesthetic category, he demonstrated how the grotesque functions as a fundamental existential experience. Moreover, Astruc identifies the grotesque as a crucial, and potentially universal, anthropological device that societies have used to conceptualize alterity and change.

  2. Alexandre Alves · · Responder

    Muito legal!!!

  3. Se repararem bem, poderão ver que as figuras possuem chifres…São figuras de “faunos” da mitologia, exemplo de força, virilidade, e sexualidade, sempre ligadas à prosperidade e riqueza. Eles perseguiam as “ninfas”, símbolo da feminilidade. Portanto essas decorações , também confundida com “mascarões” (vide Memoriais da Lapa, de Ronaldo Rego) encontram-se em todo o Rio e na maioria das cidades europeias. Sem dúvida, uma tradição arquitetônica vinda do classicismo.

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