HOLANDA INVADE OLINDA!

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No dia 16 de fevereiro de 1630 – há exatos 386 anos, portanto – acontecia a primeira invasão holandesa ao Brasil, mais precisamente à cidade pernambucana de Olinda.

Opa! Mas o que isso tem a ver com a arquitetura carioca? Bem, nada, devo dizer. Ou quase nada, melhor dizendo. Esta postagem é uma singela homenagem às poucas construções civis da cidade nas quais se pode enxergar alguma influência da arquitetura holandesa.[1]

Falamos hoje da mais notável delas, por sua monumentalidade, posição geográfica e excepcional estado de conservação. Trata-se do antigo prédio onde esteve até 1990[2] o Café e Bar Simpatia, nos números 88 a 94 da Avenida Rio Branco, um dos poucos remanescentes do conjunto de prédios originais da então Avenida Central, aberta em 1904. Ali esteve também, por longos anos, a Casa Piano.

Segundo o Guia da Arquitetura Eclética no Rio de Janeiro, “a ornamentação cuidada lembra as construções medievo-renascentistas da Flandres com interessantes peças de cerâmica de vivo colorido. No telhado movimentado destacam-se, além das lucarnas, os pavilhões piramidais que conferem aos dois corpos destacados da fachada aspecto de torres.”

Projetado pelo arquiteto francês René Barba em 1904, o prédio apresenta curiosa planta baixa, fruto de solução engendrada pelo então chefe da comissão construtora da grande avenida, o Engenheiro André Gustavo Paulo de Frontin, que teria inadvertidamente traçado a artéria sobre os limites da igreja oitocentista de sua própria devoção, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte. Instado pelos irmãos da Venerável Ordem Terceira da Conceição e Boa Morte, proprietária do novo terreno, o engenheiro alterou o traçado em alguns graus, suficientes para livrar o corpo principal da bela igreja, mas não para salvar-lhe o adro lateral e a escada de pedra que dava acesso ao campanário, que foram eliminados.

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O terreno resultante ficou num formato tão incomum – um triângulo retângulo, como se pode ver na imagem ao lado – que acabou talvez lhe salvando de uma futura demolição. O fato é que o belo prédio está de pé até hoje. O arquiteto René Barba criou um projeto engenhoso, no qual não se pode absolutamente notar esta “pequena” imperfeição: as janelas do lado esquerdo, junto ao corpo da igreja, na Rua do Rosário, vistas do lado de fora são iguais a todas as outras, mas internamente o triângulo retângulo ficou tão estreito que não é possível para uma pessoa abrir aquelas janelas…[3]

Ao observar o conjunto a partir da Rio Branco, repare que o lado esquerdo do prédio parece se fundir ao corpo da igreja. Interessante, não?

O excepcional destaque fica mesmo por conta da centenária decoração em cerâmica da fachada, intacta e de vivo colorido, como podemos conferir nas imagens abaixo.

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Até a próxima!

[1] De memória cito dois exemplos de construções nas quais é visível a influência da arquitetura dos Países Baixos: o sobrado da Avenida Henrique Valadares, 149, antiga sede da União dos Proprietários de Marcenarias, que clama por uma restauração, e o conservadíssimo Studio do Cais, na Rua Equador, 476, no Santo Cristo. Lembremos ainda da demolida Casa Mauá, projeto de Gastão Bahiana, onde hoje se encontra o Edifício RB1, na Praça Mauá, de riquíssima inspiração neogótica, mais um dos muitos atentados contra a arquitetura eclética carioca, e ainda alguns outros projetos saídos da prancheta do grande Morales de los Rios.

[2] http://www.rioecultura.com.br/coluna_patrimonio/coluna_patrimonio.asp?patrim_cod=52

[3] A Antiga Rua dos Ourives se chama hoje Miguel Couto, e a antiga do Hospício é hoje a Rua Buenos Aires.

 

um comentário

  1. Interessantíssimo! Parabéns!!

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