UM MEDALHÃO CARMELITA NA RUA PRIMEIRO DE MARÇO

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Não devemos confundir a Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé com a Igreja da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, coladinhas uma à outra, quase geminadas. As duas dão frente para a Rua Primeiro de Março. A primeira, que já foi Capela Real, Capela Imperial e Catedral Metropolitana até 1977, faz esquina com a Rua Sete de Setembro. A segunda – onde está o ornamento que nos interessa nesta postagem – tem esquina no Beco dos Barbeiros e é uma das mais belas e bem conservadas construções cariocas da segunda metade do Século XVIII.

A igreja da Ordem Terceira do Carmo, como é popularmente conhecida, é a única igreja da cidade totalmente revestida em gnaisse carioca, em estilo pombalino, uma referência ao período de governo do Marquês de Pombal em Portugal.

A cartela que se encontra sobre a portada principal é das mais notáveis obras da arte religiosa da cidade (foto acima). Esculpida em pedra de lioz, teria sido trazida de Lisboa em 1761. Iconograficamente, representa o momento da aparição de Nossa Senhora do Carmo perante São Simão Stock quando de sua peregrinação à Terra Santa, no Monte Carmelo, na atual Israel, o que segundo a fé católica teria acontecido no dia 16 de julho de 1251.

A Virgem aparece rodeada de anjos e envolta em nuvens, sobre as quais ampara o Menino Jesus com a mão esquerda. Com a mão direita ela entrega ao santo o escapulário – um manto com um buraco no meio, para ser vestido pela cabeça, sobre a batina -, com a promessa de que aqueles que morressem vestidos nele seriam salvos.

Veem-se ainda na cena as escadas de um suposto altar e um incensário, além de outros dois atributos associados à vida do santo: um livro e um ramo de açucena, uma associação entre a pureza do santo e a da Virgem[1].

Na fachada voltada para o Beco dos Barbeiros, outro belo baixo-relevo traz mensagem semelhante: desta vez o santo não está presente, e é o próprio Menino Jesus que porta o escapulário.

Não deixe de ver.

 

[1] http://bdtd.biblioteca.ufpb.br/tde_arquivos/7/TDE-2009-09-18T095600Z-65/Publico/parte2.pdf. In Honor, André C. O Verbo mais que perfeito. Uma Análise Alegórica da Cultura Histórica Carmelita na Paraíba Colonial. UFBA.

um comentário

  1. Sem dúvida é uma da igrejas mais notáveis da cidade, tanto externamente como na decoração interna. Essa Irmandade perdeu muito do seu poder e riqueza tanto na Europa como no Brasil. Seus conventos na Espanha e na Bahia estão vazios, transformados em hotel (na Bahia) ou em centros culturais (na Espanha) refletindo o esvaziamento do cristianismo na Europa. O mundo católico nos deixou uma inestimável arte sacra, admirada em todo o mundo. Temos que zelar por esse patrimônio e o Estado deve continuar ajudando na restauração desses templos que atestam a religiosidade de nosso povo.

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