Os Mercúrios Cariocas (parte 1)

Cumprindo a promessa aos muitos fãs do deus romano Mercúrio, publico hoje uma pequena reunião de aparições do Padroeiro dos Comerciantes pelas fachadas do Centro da cidade do Rio de Janeiro.

A mitologia grecoromana nos conta que Mercúrio – Hermes, para os gregos – teria subtraído um novilho a Febo (equivalente a Apolo, na mitologia grega). Indo reclamar a Jupiter (Zeus), Febo imediatamente desistiu de sua rês ao tomar contato com a suave música tocada pela lira construída por Mercúrio a partir do casco de uma tartaruga. Inebriado pela música, Febo jurou desistir da contenda se Mercúrio lhe doasse o magnífico instrumento. E assim foi feito: Mercúrio ficou com o novilho e Febo com a lira, o que representou a primeira troca do Universo e conferiu a Mercúrio o título de Padroeiro dos Comerciantes.

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A devoção ornamental a Mercúrio no Rio de Janeiro extrapolou momentos históricos e estilos arquitetônicos. Podemos encontrar, indistintamente, representações do Mensageiro de Júpiter em construções neoclássicas, ecléticas, protomodernas e até modernas. Difícil seria eleger “o mais belo Mercúrio carioca”, mas sem dúvida entre os candidatos estariam aqueles das fachadas do Edifício Heydenreich (Rua Alvaro Alvim, 24) e da Associação dos Empregados no Comércio (Avenida Rio Branco, 120), vistos acima.

No alto do edifício da Associação Comercial do Rio de Janeiro, à Rua da Candelária, 9, inacessível aos olhares da população carioca, esconde-se mais um belíssimo baixo-relevo representando o deus romano (abaixo). Mercúrio aqui tem quase 3 metros de altura e foi representado junto às alegorias da Agricultura e da Arquitetura, esta última portando uma maquete do próprio prédio!

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Outro notável exemplo do sincretismo empregado pelos ornamentistas cariocas está na mistura de Mercúrio e índio do coroamento do Hotel Aymoré, na Rua Carlos Sampaio, 106, junto à Praça da Cruz Vermelha. O cocar do índio possui aqui visível associação com o capacete alado do deus romano.

Hotel Aymoré

Numa rápida contagem em meus arquivos, consegui identificar 56 referências a Mercúrio apenas nas fachadas do Centro do Rio e adjacências, como a Lapa. Muitos, com certeza, me terão passado despercebidos. Conto com vocês, pois, leitores e colaboradores, para me ajudar a retirá-los do anonimato!

5 Comentários

  1. É isso aí…

  2. Amo o que é antigo , tudo aquilo que é arte. Quando vi a reportagem no Globo corri para o computador. Tudo belo ! Parabéns .

  3. O responsável pelo “Mercúrio Moderno” se chamava Giuseppe Gammarano, com G e não C, como estava na exposição e saiu grafado no livro. Dou essa informação como certa porque sou amigo íntimo da família. Sugiro uma errata, se possível.

    1. Prezado Filipe,
      Bom dia e obrigado pela informação. Acabo de te encaminhar uma mensagem sobre isso.
      Estou convencido de que tens razão, mas a assinatura na peça é perfeitamente legível CAMMARANO – com C, e não com G.
      Assim que possível eu conserto a postagem aqui no blog, ok?
      Um abraço,
      Luiz Eugenio

  4. Roberto Fernandes · · Responder

    Procurando informações sobre uma amiga Bianca Gammarano (ja falecida) e filha de Giuseppe Gammarano, o qual conheci, posso afirmar que o nome dele é com G e não com C. Quando ainda muito jovem tive a oportunidade de ver inclusive a forma que deu origem ao rosto que esta na fachada do predo.

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