Mathurin Moreau e o Rio de Janeiro

A postagem de hoje é uma homenagem ao escultor francês Mathurin Moreau (Dijon, França, 18/11/1822 – Paris, França, 14/02/1912).

Segundo Eulália Junqueira em seu livro Arte Francesa do Ferro no Rio de Janeiro, grande parte das obras de arte feitas em ferro fundido existentes na cidade foram adquiridas das Fonderies du Val d´Osne, na região de Champagne, na França. Isso faz do Rio de Janeiro a cidade fora da França com o maior número de obras provindas daquela fundição. Segundo a mesma fonte, somente dos fornos de Val d´Osne teriam saído mais de 200 trabalhos em ferro fundido localizados na cidade, entre fontes, chafarizes e esculturas.

Desse inestimável tesouro francês em solo carioca, o escultor Mathurin Moreau é possivelmente o campeão em representatividade. O site http://www.e-monumen.net lista mais de 40 esculturas de sua autoria, sem contar as inúmeras escadas, fontes e chafarizes sabidamente por ele projetados. É de sua autoria, por exemplo, o monumental chafariz da Praça Mahatma Ghandi, no Centro da Cidade, onde até 1976 esteve o Palácio Monroe. Podemos citar ainda as 4 estátuas representando as 4 estações, no Passeio Público, esculturas no Palácio da República, na Praça Tiradentes, no Centro Cultural José Bonifácio, na Faculdade Souza Marques e no Colégio Estadual Amaro Cavalcanti, entre outros.

A Ciência

  A Indústria

Acima estão a Ciência e a Indústria da Antiga Procuradoria Geral do Estado e atual Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, na Rua Dom Manuel, 25, no Centro. A Ciência, à esquerda, tem nas mãos um esquadro pousado sobre uma esfera. A esfera está associada à perfeição, assim como o conhecimento, cuja verdade não admite arestas. O compasso, como o triângulo, também está relacionado à ideia da perfeição do conhecimento. A Indústria, à direita, foi representada por Moreau como uma musculosa figura masculina que tem à mão direita uma marreta apoiada sobre uma bigorna, de um lado, e a engrenagem, de outro. Uma idêntica Ciência adorna a fachada da Escola Municipal Rivadavia Corrêa, na Avenida Presidente Vargas, 1314.

Vemos abaixo as quatro esculturas decorativas do Antigo Tribunal Superior Eleitoral e atual Centro Cultural da Justiça Eleitoral, na Rua Primeiro de Março, 42, Centro. Representam, da esquerda para a direita e de cima para baixo: o Comércio, que porta o caduceu de Mercúrio, padroeiro dos comerciantes; a Marinha, que veste a estrela Polar na cabeça e tem timão e luneta nas mãos; a Agricultura, que porta um arado e um feixe de trigo; e a Indústria, agora na pele de uma alegoria feminina, que está representada novamente pela marreta e pela bigorna.

O ComércioA MarinhaA AgriculturaA Industria

Desse mesmo artista é, ainda segundo Junqueira, a estátua sedestre da Justiça localizada no coroamento do Centro Cultural da Justiça Federal, antigo Supremo Tribunal Federal, no número 241 da Avenida Rio Branco (abaixo). A imponente Justiça carrega vários de seus atributos: a balança, a espada, os livros e o ramo de carvalho. A espada representa aqui o rigor da Justiça, aquela que não hesita no momento de punir, e sua habilidade de separar a ficção dos fatos, simbolizados pelos seus dois gumes. A balança, utilizada para medir as quantidades das coisas materiais, é frequentemente empregada como uma metáfora da Justiça, que cuida para que cada homem receba o que lhe é devido, nem mais nem menos. O carvalho representa a força para julgar e os livros simbolizam a lei escrita.

A Justiça

 




2 Comentários

  1. Como é possível saber se uma escultura é de Mathurin Moureau? Ele assinava sua obra em algum lugar especifico?

    1. Prezado Ronnie,
      Boa tarde! Não creio que ele assinasse as obras, considerando que elas foram produzidas num momento da história da arte em que a produção em escala industrial colocava em segundo plano o carater de “obra única” de cada peça, como estamos acostumados a encarar a obra de arte. As grandes fundições francesas publicavam catálogos de seus produtos, distribuídos largamente, e é a partir dessas publicações que nos foi permitido conhecer o autor da obra. Mais especificamente, esse artista é citado no livro Arte Francesa do Ferro no Rio de Janeiro, de Eulália Junqueira, especialista no assunto (Editora Memória Brasil, 2005). Outro lugar bom para procurar sobre esse assunto, na Internet, é o site francês http://e-monumen.net.
      Um grande abraço,
      Luiz Eugenio

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